quarta-feira, 20 de agosto de 2008

QUAL É O SEU TALENTO ??


O trabalho dignifica o homem, essa frase veio pela manhã em minha cabeça, acho que foi mais um estímulo involuntário e cerebral, para que a manhã iniciasse com todo vapor.
Mas a relação que nós temos com o trabalho é interessante, quando saimos de casa para trabalhar temos agregado o mesmo valor de caça que nossos primatas tinham, mas agora além da comida (sobrevivência do mais forte) é necessário ganhar um pouco mais para sustentar novos hábitos da sociedade moderna. A gente se encontra mais sério quando trabalha e até mesmo mais tenso, porque cada hora do dia queremos equiparar horas de funcionamento corporal e mental por dinheiro. Seria belo se essa equação hora-movimento funcionasse no Brasil, mas ok, reclamar nem sempre é a melhor saída, façamos então o necessário para o valor em dinheiro que no atual momento dão a você.
Eu fico pensando onde mora o talento das pessoas? Na busca por uma fatia do mercado mais lucrativo ???
Qual é realmente seu talento ?
Eu sempre tento analisar a classe social onde me encontro e percebo que a classe méida é a grande formadora de opinião dos hábitos sociais. Vivemos com o interesse da riqueza e lutamos com o medo da probreza e isso reflete muito na escolha de uma profissão.
Eu vi ha pouco tempo um anúncio da Nike que era um relato de um atleta, que nasceu pobre e mesmo assim venceu no atletismo, logo pensei:
- Se eu tivesse escolhido o atletismo para minha profissão, será que meu meio valorizaria tanto assim ?
Muito difícil, a classe média é a classe dos que buscam a mina de ouro, eles influenciam eles mesmos, seguem as tendências de mercado, ditam o emprego do momento e com isso não possuem tanta liberdade de escolha quanto se pensa. A busca pela profissionalização e sindicância do trabalho é toda criada por essa classe e de certa forma eu acho que profissionalizar é interessante, o problema nisso tudo é que existe um hierarqia de escolha.
No mercado do futebol você verá poucos jogadores da classe média, porque ? POrque o pai da classe média quer que você estude no exterior, faça um MBA, tente um concurso público, faça uma pós graduação, mestrado e doutorado, sonha isso tudo, mesmo não podendo pagar em muitos casos. O pai da classe média ao decorrer da vida nem sabe o que realmente você aprendeu com todos os ensinamentos custeados por ele. A preocupação paterna faz com que ele una o status de ter um filho bem sucedido mais o alívio de não ter deixado sua cria viver na pobreza.
Já o filho de pai pobre, não pode pagar sempre uma ótima escola para gabaritar as tendências de mercado (claro que isso não é uma regra, afinal quem busca o conhecimeno é indiferente de classe social) e talvez quando ele descobre que jogar bola crie o argumento e o sonho de que ele sairá da pobreza, acaba então caindo na mesma corrida dos ratos que a classe média vive, a busca pelo dinheiro. O doloroso é se realmente ele não for talentoso.
Todo esse "blablabla" tem o único objetivo de querer entender sobre o talento. Todos nós temos um talento, seja para simplesmente organizar as coisas, mover, criar, escrever, gesticular, interpretar ou qualquer outro verbo. Mas será que a educação de nosso país estimula o desenvolvimento de nosso talento ? Será que nesse momento que você lê este texto, o país se encontra com todos trabalhando em seus devidos talentos?
Essa é a dificuldade da vida, uma bola de neve de situações erradas, que não contribuem para muitos fatores brilhantes como o talento. Um dia indo pra São João Del Rey discutia com meu pai sobre a questão da dificuldade que um músico tinha para crescer na vida financeira, enfim ser independente com o que faz. Meu pai com todo argumento mercadológico deu fortes explicações da dificuldade deste setor, mas enquanto ele falava em ganhar dinheiro eu argumentava que a falta de investimento e o acúmulo da crença dele sobre este assunto, é o que prejudica o mercado da música. Vejamos bem, você acredita que pode ser um grande escritor e o mercado diz pra você que formar em Jornalismo é furada, porque poucos conseguem ganhar muito dinheiro e para ser bem sucedido é necessario ingressar na capital ou então dizem que se você estudar letras, será somente um professor de "merda". Em pleno terceiro ano do colégio o aluno descobre com argumentos sem qualquer fundamento a sua opção e nem adianta fazer o teste vocacional, porque caso o resultado seja artes cênicas o mercado vai convencer o contrário. O resultado do meu teste foi música, que ironia não ?
Com isso o pai do garoto investe em média 30 mil reais ao decorrer de 5 anos para que ele se forme em uma faculdade particular de renome, depois mais investimento para fazer um curso de gestão de négócios, viajar para o exterior, estudar inglês, para que seus testes de trainee não tenham a língua inglesa como barreira de aprovação.
Ok, os seres humanos são inteligentes e mesmo que talvez este não seja o talento do sujeito, a indução de novos conhecimentos faz com que ele também aprenda e se desenvolva, mas e se este não for o talento dele ?
Provavelmente ele vai conseguir um emprego em qualquer empresa grande, terá seu valor mensal e pegará a sua carteira de sócio da classe média, comprará seu carro do ano e o status dado a ele vai confortar sua frustração de trabalho.
Inverta todo esse investimento caro no talento do sujeito, ele pode não se tornar um homem multi-milionário, mas eu tenho certeza absoluta que ele encontrará na paixão de sua própria escolha uma forma de fazer dinheiro e pertencer á esta mediocre classe média.
É muito contraditório, nascemos com o famoso discurso de buscar a felicidade e quando chega a hora de você escolher sua função, que dará ao mundo algum benefício, chegam pra você e dizem que pra ser feliz nem sempre é com aquilo que você escolheu. É uma pena, mas quem sabe em alguma outra vida, a gente tenha mais liberdade e estrutura de escolha, porque enquanto as grandes empresas zelam pelo trabalho em equipe, nós não sabemos 1/3 da metade do que seria trabalhar em equipe para uma empresa chamada planeta TERRA.
E outra coisa, nem tudo está perdido, aquele ditado de ser brasileiro e não desistir do sonho , realmente é um forte slogan de campanha.

Jouber Nabor Lacerda

Um comentário:

X-Kuei disse...

É a mais pura verdade.

E já reparou que, ultimamente, todos os meios de produção pouco valorizados comercialmente estão "pedindo esmola" do Estado?

Outro dia alguém disse que as bandas de pop rock não estão tendo espaço no Vale do Aço, que precisam de mais incentivo... aí voltamos lá no tempo dos gregos, do Mecenato, em que os artistas não conseguem sobreviver com sua arte e dependem de mercadores pra poder custeá-la.

Agora, melhor ter esmola do que preterir seu talento. Nós temos talento pra música. Mas não podemos exercê-lo completamente.
... ou não queremos?

E se a gente virasse músico em tempo integral? Sabe o que ia acontecer? A gente ia torcer pra aparecer algum projeto da lei rouanet pra gente tocar no teatro do shopping... ou numa turnê... ou mesmo gravar cd.

Infelizmente precisamos do dinheiro, aí deixamos nosso talento de lado pra resgatá-lo quando estivermos financeiramente tranqüilos, época que, infelizmente, pode ser tarde demais.

Forte abraço Jobão.