quinta-feira, 2 de outubro de 2008

AS MUSAS DA PINTURA


Antes de ler este texto veja o trecho no Youtube
http://www.youtube.com/watch?v=JkofFIkMdh0

Agora sim, você vai entender como um artista observa a escolha de sua próxima musa.
Se eu posso sentir inveja sinto dos pintores, eles me incomodam com seus processos e técnicas criativas. Os pintores param frente ao cenário escolhido e jogam sobre tinta e tela, sentimentos, reprodução de imagem e muita particularidade. Van Gogh não pintaria Monalisa como Leonardo Da Vinci, está aí uma pergunta: Como seria a Monalisa de "Vanga" ?
Eu deveria ter aprendido a técnica da pintura quando novo, tudo bem, sei que ainda é tempo de aprender, mas parece que o estímulo muda e o foco também. Em minha mente moram tantas imagens que às vezes eu não sei de onde vem, moram objetos que eu nunca vi; mulheres que não beijei; luzes que me seduz e cenários que eu não visitei.
E quando vi esta cena percebi que a arte muda, mas o sentido da criação não. Repare os olhos do pintor, a ansiedade seguida de calma, parece que eu senti até a pulsação de seu coração.
Quando estamos frente a um objeto ou tema que nos inspira, é mais ou menos essa a sensação... Ansiedade, desejo, conflito, perguntas e se todos os sentimentos passam pela nossa cabeça, isto é possível.
Sentir, nascer para sentir, esse é o dilema. O artista sente frio para dizer sobre ele, medo para expressá-lo e desejo para divulgá-lo.
Em relação às musas eu acredito que quem nasceu com a arte sempre será infiel, não digo infiel no sentido carnal e sim no espiritual, você já pode ter encontrado o parceiro de sua vida, mas quando sua mente lhe mostrar uma nova imagem que atinja o lado livre da criação, não tem volta. A nossa fidelidade é com a arte, com o sentir, com o expressar, mas temos consciência de alguns limites mesmo que o lado irracional chegue perto.
Eu já tive em minhas mãos fotos de amigas nuas, as desejei como homem, mas soube também admirar com olhos da arte, algumas imagens me levaram a escrever, outras somente a olhar e assim posso muito bem escrever mais tarde.
Quando produzi um texto sobre uma mulher nua que vi em minha frente, sempre foi relatando alguma experiência sexual e todos os textos saíram depois na lembrança das imagens, mas nunca parei como um pintor, posicionei ali a minha musa, deixando-a em trânsito livre para o imediatismo da criação, apenas parar, admirar, sentir e escrever. O pintor fica ali, louco para tocá-la, ansioso para saborear, mas naquele momento seu toque mais importante é o retrato de sua nova obra e entre traços, saem dali minuciosas escritas, sentimentos que moram dentro da cabeça e que nem o vocabulário mais rebuscado consegue expressar.

Jouber Nabor Lacerda

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