segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Hoje ela só quer dançar.


Em algumas de minhas aproximações noturnas, percebia um discurso bastante utilizado entre as mulheres. No começo achava que era um artifício criado para que elas evitassem de dar fora no sujeito, sem tira-lo ou deixa-lo sem graça.
Muitas vezes estamos em boites ou casas de samba e ficamos apreciados com todo aquele gingado do quadril feminino. Elas viram o pescoço, balançam o cabelo, passam a mão nele, jogam com muita leveza os braços pro alto e conseguem manter toda uma sensualidade mesmo que não tenham domínio algum no estilo de música que está tocando.
Então você chega de fininho entorpecido de vontades, tenta alguns passinhos pra lá, procura cair no gingado dela e começa a pensar:
- Sim, estou afim de sentir essa mulher
A partir de alguma relação de diálogo já estabelecida, você tenta ser ousado e deixa claro verbalmente ou gestualmente uma certa pretensão. Em seguida você escuta:
- Olha, você é muito gente boa, estou me divertindo muito com você, mas hoje eu sai pra dançar.
Naquele momento sua mente pensa:
- Ao invés disso, essa mulher simplesmente poderia falar que não está afim e tudo continuaria normal.
Ouvir um "hoje eu sair pra dançar" é um fora que parece ter subjetivamente um "passa depois". E essa sensação de passar depois é muito ruim, porque a gente quer passar depois, mas acha que vai amolar, caso chegue novamente nela.
Então um dia eu entendi que muitas vezes um "sair pra dançar" pode ser realmente umA frase verdadeira.
Fui com um amigo em uma festa na região metropolitana de BELO HORIZONTE, que se chama "Baile da Saudade", se me recordo com exatidão, a festa é em Venda Nova. O Baile da Saudade é um "revival" dos tempos de discotecagem das pistas de boites dos anos 60 e 70, a musica da vez é o black music e a todo momento parece que JAMES BROWN vai entrar na pista e fazer alguns passinhos de dança. O soul corta pesado nos corações da galera, é quase impossível entrar naquele galpão e não fazer um gingado de pernas e ombros. Alguns membros do baile vão vestidos de terno, gravata, um lustradíssimo sapato de listra branca na ponta e pra completar, um ornamental black power sobre a cabeça. Os caras abrem a roda e mostram com muita clareza que o espírito funk soul não morre. Eles bailam como ninguém e aqueles que não sabem como tal, fazem um circulo ao redor dos homens dançantes e arriscam alguns passos.
A sensação é única, sabe quando você está em seu quarto, coloca o som no "talo" e se solta como um frenético rockeiro ou seja lá qual personagem você incorpora, então é este o sentimento do baile, a gente acaba esquecendo de quem está ao redor e mesmo que você não seja um grande dançarino, acaba fazendo de seus passos desengonçados uma dança de muito swing. Parece que você está espiritualmente cercado por Deuses que bailam ao seu redor junto ao som grave do groove. As vezes aparenta uma luta de boxe, um jogo de basquete, uma aula de spinning, um forró nervoso, um funk carioca ou uma aula de capoeira. Todos ali se jogam, entram em transe, bailam juntos, separados, colados e livres.
Quando entrei no lugar avistei algumas belas mulheres que ali buscam o famoso dançar, inicialmente sempre rola aqueles flertes por olhar e então você fica esperando o momento oportuno, mas ali, até o momento oportuno é esquecido, quando você percebe, está dançando frente a menina que achou linda, e o groove no ar só permite o silêncio de sua boca, o suor do corpo, os ouvidos atentos e o balançado do som. Vocês se olham e percebe a possibilidade, mas querem juntos que o som groove continue.
Alguém já viu no discovery channel, uma espécie de pássaro que faz um ritual de dança, onde neste momento mostra o tamanho das asas e o brilho das penas para seduzir a fêmea. É mais ou menos isso, você se expões, mas sem tanta pretensão quanto ao passáro do discovery. Sim, um beijo pode rolar, mas parece que naquele lugar a dança que define a hora de beijar e mesmo que isso não aconteça, você sai tão suado que parece ter feito sexo a noite inteira.
Foi então neste dia que percebi a frase "hoje eu sai pra dançar", as vezes você está puto da vida, brigou com o namorado(a), não passou no vestibular, não vai viajar no carnaval, perdeu uma nota de 50 reais, então o único jeito é sair e parar de pensar no assunto, mas não use somente os pretextos negativos para dançar. Com isso saia, dance, balance e entenda:
- As mulheres sabem sair pra dançar.


Fiz uma canção em homenagem ao momento:


COnsultei a James Brown

Eu consultei a James Brown
E pedi um som legal
Vou tocar um funk
Quero ouvir
Quero ver
Vou tocar um funk
Pra você remexer
Hoje é dia de bailar
Bebida a liberar
Vamos estravazar
Hoje ela só quer dançar
Não quer beijar ninguém
Pra mim está tudo bem
Vou tocar um funk
Quero ouvir
Quero ver
Vou tocar um funk
Pra você remexer



Jouber Nabor Lacerda

3 comentários:

Bruno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruno disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Thiago Moreira disse...

ee lacerdinha...