GOIABAS PARA ELA

Então hoje quando sai com meu chefe para atender alguns clientes, notei um nobre ato de romantismo.
Numa sociedade capitalista onde o valor é imbutido em números e preços exorbitantes de produtos, é quase impossível ser verdadeiramente romântico. Na verdade o romantismo é uma percepção do olhar de cada um, no caso, um reconhecimento do esforço daquele que homenageia.
Estávamos em uma avenida onde o trânsito obviamente tinha um forte fluxo de carros, principalmente na hora do rush, então ao parar frente a um semáforo logo na esquina, meu chefe avistou um carrinho móvel de frutas e automaticamente a frase que ele poderia ter muito bem guardado em sua cabeça, foi solta pelo ar:
- Opa, vou comprar goiabas para minha mulher.
Ele deu sinal ao homem que conduzia o carrinho, parou logo no acostamento da avenida, onde em frente tinha uma placa que proibia o estacionamento. Enquanto ele descia do carro e ia em direção as frutas, dentro do carro pensei:
- Será que a mulher dele ficaria feliz tanto quanto um presente de alto valor no mercado, afinal a lembrança de parar e comprar "goiabas para ela" para mim se comparava na mesma lembrança de comprar alguma jóia, claro que eu reconheço o encanto do brilho de uma jóia, até porque eu admiro detalhes que brilham. Mas será que quando a esposa de meu chefe ouvir a frase "Trouxe goiabas pra você", será recebido como romantismo ? Ela sentirá um friozinho na barriga e uma vontade de dizer eu te amo ?
Talvez sim, caso ela não coma goiaba há anos ou o pomar da mesma fruta seja coisa rara no mercado, com isso um valor mais alto rsrs. Talvez não, quem sabe ainda exista aquele romantismo dos quadrinhos do Chico Bento, onde os personagens paravam em uma pedra, viam as águas passarem, falavam juras de amor e entregavam um pro outro flores, que nem tão raras eram, pois sempre estavam ali no alcance de suas mãos.



Jouber Nabor Lacerda