terça-feira, 10 de março de 2009

Volte sempre

Quando criança fiz da casa de meus avós meu parque de diversão, ali jogava bola, brincava de pique esconde e naquele mesmo local dei meu primeiro beijo na boca. Então os anos se passam, a adolescência chega e começamos a tomar rumos distantes, deixamos então os modismos nos consumir, festas, internet, bebidas, descobertas de muitas coisas que os páis nos orientam a dizer não. Parece que durante uma etapa de nossas vidas seguimos em direção do sopro do mundo, um caminho de empurrões, talvez esta seja somente a minha história e você tenha feito diferente e melhor.
Mas hoje ao passar na casa de meus avós, percebi que não sabia que nem sentia saudade de ir até lá, parece rude ler isso, mas eu tenho meus pecados. Quando entrei me deparei com a serena paz de minha vó, senti uma sensação que me dizia algo, jogava em minha face toda minha covardia, pois ao invés de entender que a velhice é um processo natural, fiquei ali com sentimentos de tristeza. Quando cheguei até o quarto de meu vô, notei que deitado naquela cama ele havia encolhido e emagrecido. Logo meu avô um homem que demonstrou uma virilidade até seus 80 e poucos anos, uma pessoa que fazia questão de demonstrar sua braveza, sua ignorância, sua nobreza. Reparei que enquanto ele falava comigo algumas perguntas se repetiam, passei então fazer questão de responder, pois quem repete a fala decora o conhecimento.
Me envergonho por deixar a velhice de meu avô fazer mal a mim, pois se eu tivesse continuado com as idas em meu parque de diversão, compreenderia melhor este processo de vida.
Logo após a minha vó me convida para tomar um suco de uva com um bolo de iorgute, me lembrei denovo que não importa a oferta, qualquer coisa que você coma na casa dos avós, o paladar aceita como um manjar e eu que amo suco de laranja, bebi o de uva com o mesmo prazer.
Minha vó disse sobre o calor, sobre um filho, sobre morar sozinho, sobre criar asas e não sei que coisa tem os avós, que quando falam, parecem direcionar seus argumentos dentro de nossos corações, acho que ainda temos o respeito pelos mais experientes.
SOltei a dúvida de quanto tempo não a visitava e com muita clareza disse minha avó:
- Desde o Natal você não passa por aqui.
Passei, por milhões de vezes na frente da casa deles e não tive a boa vontade de entrar para ao menos dizer um oi.
Quais as prioridades de minha vida ? Será apenas eu um neto desnaturado ? Porque prefirimos as vezes coisas que não possuem tanto valor para nosso aprendizado de vida ? Hoje fiquei assim, a pensar, sobre muitas coisas que tenho feito, sobre a minha idade, sobre meu trabalho, sobre maturidade.
Fui embora e disse a minha vó:
- Vó, preciso acordar cedo amanhã, o trabalho me chama.
Logo em seguida lembrei que muitas vezes cheguei em casa as 4 da manhã para o dia seguinte trabalhar.
Com toda compreensão e serenidade do mundo minha vó disse:
- Ok, benção, vai com Deus e muito obrigado. Volte sempre !!!


Jouber Nabor Lacerda

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